sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Karma nosso de cada dia


        Muito se fala de Karma no cenário espiritualista atual. O significado que essa palavra ganhou hoje aqui no ocidente é irritantemente parecido com o conceito de castigo divino, que temos no cristianismo. E quando se fala em castigo divino, Lei do Retorno e suas variantes, é uma espécie de “seja bonzinho e você se dará bem, seja malzinho e você se ferrará”, com aquele tom moralista clássico. Tudo isso baseado em... Nada. Okay, talvez baseado num dogma judaico-cristão ou conceitos de certo e errado que seus pais lhe passaram, e que os pais destes passaram para eles... assim por diante.


 
     Acontece que o sentido original da palavra “Karma” está longe de ser esse sistema de “castigo-recompensa”. Como já li por aí... “Deixaram de acreditar num Deus maluco e vingativo para acreditar numa Roda do Universo maluca e vingativa!”

     Karma significa “Ação”. E toda ação implica numa reação, numa conseqüência.É fácil achar alguém que se rotule como espiritualista ou místico que critica nomes da Espiritualidade e do Ocultismo por ter uma postura “libertina”. Exemplo mais escancarado é Aleister Crowley. Quantos não criticam a personalidade dele e invalidam toda a filosofia e prática espiritual atribuídas a ele só pelas atividades pessoas? Só pelo que ele era como pessoa? 


    Apesar de a mídia ter exagerado um “pouquinho” na hora de pintar a imagem dele, não vou dizer que ele era um santo. Não era. Mas a questão é: Porque para se ter uma espiritualidade desenvolvida é preciso ser santo? A verdade é que muitos ainda conservam a idéia de que não pode questionar certo e errado, que não pode ser livre, que precisamos estar presos, por obrigação, e fazer caridade, e fazer o “bem”... E tudo isso simplesmente baseado em... nada? Okay (denovo), talvez baseado na doutrina cristã. Enquanto sacerdotes ricos se entregam ao conforto, a população luta por um pão. E ainda dizem “sejam bonzinhos, fora da caridade não há salvação!”. 

    É claro que o espiritismo faz inúmeros trabalhos sociais, ampara muita gente necessitada. Eles estão sim fazendo um bem, mas é um erro pensar que para crescer espiritualmente é preciso ter essa caridade, muitas vezes, forçada. A frase “fora da caridade não há salvação” é um ótimo bordão pro Caminho de Mão Direita, que é só mais um caminho, não O Caminho.

    Cada um tem um caminho ideal para seguir, o meu, pessoalmente, não é esse. Os nomes que admiro na Filosofia e Espiritualidade nunca foram os caridosos, os bonzinhos, mas sim os críticos, os racionais, os práticos. Sem desvalorizar os bonzinhos, é claro.

   Ok. Mas onde o Karma entra nisso?

     Eu comecei o texto pensando em fazer uma desconstrução da conotação que “Karma” tomou hoje e também desconstruir a idéia de que precisamos ser santos, e só através da bondade (ou o que algumas pessoas pensam ser bondade...) podemos nos iluminar.

     Como foi dito antes, Karma no sentido original é Ação que tem incluída em si a sua reação. Podemos dizer que Karma é a ação não lúcida.

     Na prática, podemos observar que certas atitudes mantém a nossa paz, enquanto outras nos colocam num estado de espírito pertubador. E nem sempre o que nos provoca estado de paz será catalogado pela sociedade como “bom” e principalmente, o que nos coloca num estado negativo será sempre considerado como “ruim”. Cosmoética não é Moral. Pra saber o que é “certo ou errado” é preciso afinar a percepção e ter tato, porque cada situação é única. Como podemos generalizar e dizer que todo caso de aborto é ruim se não sabemos de todas as variáveis de um caso específico? Todo julgamento moral pode acabar sendo falho por isso. Respostas prontas não funcionam sempre. Aliás, raramente funcionam.

      Crowley uma vez disse que o Universo não era justo, mas sim, preciso. Chegou a trocar o nome do Arcano da Justiça no Tarot por “Ajuste”. O Universo não te julga como bom e mau, e em seguida dá uma recompensa ou castigo. É simplesmente “toma lá dá cá”, o princípio do Ritmo.




     Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo sobe e desce; tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda; o Ritmo é a compensação.

     E antes de julgar aquele que busca o seu crescimento pessoal, deixando de lado a caridade, ou mesmo como segundo plano, pensem no seguinte: Ao crescer, evoluir, se conscientizar, não estaríamos ajudando a melhorar a Totalidade, já que, fazendo parte dela, se um indivíduo cresce, isso afeta a coletividade? Na escuridão, uma vela acende a si própria, iluminando um pouco ao redor.

   Enquanto muitos “moralistas espirituais” só ajudam materialmente os outros, ou talvez, dão alguns conselhos, conversa, a fim de confortar os outros, há quem busca não conforto, mas sim o desconforto, a perturbação, a fim de criar uma melhora. Já que quando estamos confortáveis, pouco nos mexemos para mudar. E essa é a diferença de quem dá uma conversa amiga, muitas vezes recheada de meias-verdades só para confortar o outro, e daqueles que buscam com carinho e paciência ajudar o outro a se transformar. Enquanto um anestesia, o outro faz com que encontrem a raiz do problema. 

É claro que encontrar  a raiz do problema é mais trabalhoso e doloroso...

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